domingo, janeiro 30, 2005

da series coisas a meu respeito que me comovem

primeira parte (de 2005, porque tem duas partes - que eu lembro - que preciso desenterrar)


I saw the news today, Oh boy!

Luciane é uma daquelas personagens de romance que aparecem para desenrolarem uma situação que está engripada, o autor não sabe como desenvolver o restante do enredo, ligar o mocinho ao bandido, fazer a donzela encontrar o herói. Um plot point, quando os verdadeiros objetivos malígnos do vilão se revelam e tudo parece fazer sentido na trama. Em todo bom filme ou livro ela está lá, sempre...até nos filmes do Lars Von Trier, que parecem ter personagens independentes da trama, ela está lá, para conduzir tudo, seja na forma de uma metalúrgica cega, o namorado americano negro de uma dinamarquesa rica ou o cachorro que leva um tiro num vilarejo dos confins do Kentucky.

Agora parece que o zoom já está saindo para um plano geral, os personagens estão felizes e rindo de todas as mirabolantes histórias pelos quais passaram.

É nessa parte que o Didi some e vai embora, rico e sozinho...o Dr. David Banner fugia da cidade depois de seu Hulk destruí-la e Chaplin andava de costas para a câmera em direção do fundo do cenário em forma de trilhos de trem que se perdem no horizonte.

Hollerpoint



Saindo de cena - Roger Franchini

I saw the news today, Oh boy!

Luciane foi uma holandesa que encontrei no trem entre San Pietro in Valle e Varsóvia. Sem que eu a notasse na cabine, assim que entrei fugindo do congelante inverno do corredor do trem, disse-me em um inglês truncado, quase eslavo, que minha cor denunciava o cobre da latinidade. Logo eu, que de Brasil até então eu só sabia correr (era medo de mim, já aviso aos patriotas que queiram atirar pedras na janela de minha casa), querendo agradá-la, tive que inventar histórias de aventuras pelas florestas verdes da Amazônia, pescarias sem varas em praias desertas.

A moça ruiva percebeu em rápidos quinze minutos que só a cor eu trouxera do querido país tropical. Ela sabia sobre esta terra como uma das melhores brasilianista que já conheci de biblioteca - fato que se comprovou anos depois, abrindo um jornal de resenhas sociológicas. Mas era cineasta por ofício e necessidade. Corria a Europa para gravar um documentário sobre imigrantes de países pobres que se dedicavam ao teatro no velho mundo. Eu nunca soube na verdade quem era, o que fazia. Até perguntei. Ela me respondeu em um bilhete deixado na caixa de minha câmera, que só encontrei um ano após nos vermos pela última vez.

Academicismo à parte, quando descemos em Bruxelas percebi que Luciane estava tão solitária na jornada quando este pateta aqui. Foi assim, durante este retiro, que deixamos nos olhar por dentro. Eu, que trazia uma melancolia de viajante egoísta, sem rumo certo, encontrei nela uma daquelas personagens de romance que aparecem para desenrolarem uma situação que está engripada, o autor não sabe como desenvolver o restante do enredo, ligar o mocinho ao bandido, fazer a donzela encontrar o herói. Um plot point, quando os verdadeiros objetivos malígnos do vilão se revelam e tudo parece fazer sentido na trama. Em todo bom filme ou livro ela está lá, sempre...até nos filmes do Lars Von Trier, que parecem ter personagens independentes da trama, ela está lá, para conduzir tudo, seja na forma de uma metalúrgica cega, o namorado americano negro de uma dinamarquesa rica ou o cachorro que leva um tiro num vilarejo dos confins do Kentucky.

Agora, que posso sentir o cheiro bom de suas costas em minha memória lembrando das vezes que ela precisava de carinho, parece que o zoom já está saindo para um plano geral, os personagens estão felizes e rindo de todas as mirabolantes histórias pelos quais passaram.

É nessa parte que o Didi some e vai embora, rico e sozinho...o Dr. David Banner fugia da cidade depois de seu Hulk destruí-la e Chaplin andava de costas para a câmera em direção do fundo do cenário em forma de trilhos de trem que se perdem no horizonte.

Comercio de Franca(o cadastro e' rapidinho e nao doi)